Vou tomar a liberdade e postar um texto que escrevi no inicio de 2012 sobre o mesmo assunto.
Peço desculpas pelo tamanho mas este é realmente um assunto complexo.
FEIO.VERDADES E DELIRIOS PELA BR101
"Já faz algum tempo que venho pensando sobre qual é a minha verdadeira necessidade de ter uma super moto para realizar minhas aventuras. Creio que muitas vezes, principalmente nas jornadas fora do asfalto, o peso, o preço das peças e o custo da própria moto em si, acabam atrapalhando, criando diversos empecilhos. Mas mesmo assim, às vezes me pego querendo trocar minha querida companheira XT660 por outra, tão ou mais poderosa quanto. É nesse momento que me questiono: necessidade ou um desejo puramente consumista? Será que estou entrando para o rol dos brasileiros “novidadeiros”, que não podem ver algo novo e já querem para si? O brasileiro é um dos povos mais consumistas do planeta e sempre adora aquela novidade nem sempre tão nova assim.Será que não estarei destinando meu suado dinheirinho, para a compra de algo que realmente não preciso? A grana gasta, não seria mais bem aproveitada em mais viagens? Mais viagens não seria uma forma de socializar meus gastos ao invés de deixar tudo na mão de uma multinacional?
Mesmo cheio de dúvidas, uma coisa eu tenho total certeza: jamais quero fazer parte daquele time que argumenta não se aventurar pelo mundo de moto porque ainda não possuem a “moto ideal”; ou daquele que já tem a “super” máquina, mas não se arrisca. Mas o pior dos piores são os desentendidos que ridicularizam aqueles que se aventuram a viajar com motos pequenas,estes,definitivamente não merecem meu respeito.
Foi com estes pensamentos,quase delírios, que saí do Rio para a Bahia em uma Xre comprada para substituir uma saudosa POP 100 branca, que eu utilizava nos deslocamentos diários, e para longas viagens mais radicais pela terra. A ocasião era propicia para tais divagações, pois estava em uma jornada de mais de mil quilômetros em uma moto média, de 300 cilindradas, e que se comportava muito bem, dentro da velocidade que seu pequeno motor permite e que satisfaz alguém com mais de 50 anos nas costas e pouca pressa para chegar, muito pelo contrário,o que me dava tempo de sobra para contemplar,fotografar,alimentar minha eterna procura do melhor Pão com Linguiça e "viajar" debaixo do capacete.
Como minha saída foi bem cedo, ainda escuro, e sem lugar definido para pernoitar, segui caminho parando em belíssimos lugares ás margens da BR101, onde normalmente, em nome da pressa, passamos e não enxergamos o entorno. O maior jardim budista da América Latina, em Ibiraçu, é bom exemplo disto. O enorme portal Torii esconde a grata surpresa colada na ladeira de 3 pistas por onde carros e caminhões passam em alta velocidade sem se darem conta da existência daquele lugar. Lá, qualquer parada de 5 minutos, se transforma em no mínimo meia hora. A beleza é tanta que a gente fica meio paralizado.
Talvez tenha sido essa experiência que também me fez olhar para a mais antiga plantação de seringueiras do estado do Espírito Santo. Árvores enormes e fantasmagóricas que se inclinam sobre o solo, criando um surreal efeito de “olho de peixe”. E a capelinha em cima da enorme pedra? Esta é um show a parte. Sempre que passava por esta BR, e foram muiiiiiiiitas vezes, ela me chamava atenção, e eu sempre me prometendo que um dia, quando estivesse de moto, iria até lá conferir o visual. E, em plena segunda de Carnaval, com tempo de sobra,resolvi cumprir minha promessa. Essa decisão me permitiu contemplar uma das mais belas vistas de toda 101. Eu e a valente Xre. Mais uma hora de admiração e agradecimentos.
Ainda extasiado com o prazer desse visual, e com a viagem rendendo bem, na faixa de 100/110, foi que perto de Jaguaré, me deparei com uma cena pra lá de surreal: uma Mobilette, totalmente carregada com alforjes, trafegando pelo acostamento. Não resisti a curiosidade, misturada com admiração, e fiz sinal para o piloto daquele veículo parar e tirar uma foto comigo. Foi aí, que tive o grande prazer de conhecer a fantástica pessoa do Feio, exatamente como ele se apresentou.
Eu estava tomado de admiração por aquela figura que vinha, naquele exato momento, comprovar o que era o foco dos meus inevitáveis pensamentos nesta viagem. Ter ou não ter? Eis a questão. Será que preciso realmente daquela “motona” linda, de nome curto, ou gasto o dinheiro que usaria para comprá-la viajando por vários meses pelo Brasil ou mesmo pelo mundo? A resposta me apareceu ali, clara, em 2 rodas e na pessoa simples do Feio.
Sem querer perder nenhuma informação sobre ele, engatei uma conversa e soube que ele estava indo para o encontro do Prado, que só começaria dali uns 15 dias, e que havia saído de Nova Iguaçu 3 dias antes. Contou-me, também, que havia ganhado a pequena moto no ano passado e que até então viajava em uma bicicleta cargueira. Com um banco especial e um tanque de uma velha Honda XL250,ambos também doados por amigos e admiradores é claro,sua "guerreira"estava pronta. Aproveitei para perguntar o que ele estava precisando, já imaginando: gasolina, dinheiro etc. Mas antes de obter uma resposta, e como tinha um posto logo a frente, pedi que ele me seguisse e completei o seu tanque quase vazio. Deixei meio litro de óleo 2T e perguntei se precisava de mais alguma coisa. Sua resposta veio rápida: - “Não. Você já ajudou o bastante.” Senti vontade de estar em uma Mobilette e seguir viagem com ele.
Restou-me combinar de encontrá-lo no Prado. Continuei meu caminho agradecido aquela personagem real, não só pela lição de vida que tinha me dado, mas pelas respostas que me forneceu, e segui na minha, nunca tão possante, nunca tão veloz e nunca tão capaz XRe300. Dezessete horas depois,14 pilotando, estava em casa, após rodar 1150 km. Cansado e feliz...
Valeu Feio.Te vejo por ai.....